A eleição presidencial francesa que culminou com a eleição de François Hollande parece ter devolvido a esperança aos "revolucionários" europeus, extasiados com a campanha e com o discurso de ontem do recém eleito Presidente.
A esperança, que acalentou os franceses e a esquerda europeia em geral, funda-se num discurso centrado no emprego (com que custos?), no progresso (conceito vago), no maior acesso dos cidadãos aos serviços públicos (repita-se, com que custos?), no fim da austeridade (e como?) e no confronto com a Alemanha (populismo demagógico).
No entanto, tenho em mim que, cedo Hollande despertará para dura realidade da economia europeia sustentada no rigor orçamental. E, por muito que custe aos europeus, a democracia europeia tem uma organização da qual não se pode fugir, a menos que se decida abandonar a Europa. Coisa que a França não desejará, por certo.
De tempos a tempos, as democracias europeias têm mudado os seus dirigentes políticos. E a cada um deles será permitido um desviozinho aqui e uma nuance mais pessoal acolá. No entanto, há uma linha mestra que conduz os destinos da Europa da qual nenhum país pode afastar-se.O rigor das contas públicas é o novo catecismo europeu. O dogma que, não obstante poder ser questionado, jamais levará a uma qualquer cisão doutrinal. A menos que nos permitamos deixar crescer, como perigosamente vemos ocorrer, os partidos extremistas de esquerda e direita.
Hollande, apesar de ser de esquerda, sempre teve um percurso político de conservadorismo. E, apesar de defender o regresso da França ao Estado Social pós-guerra, sabe que os seus passos terão que ser seguros porque, desde ontem, os olhos dos mercados viraram-se para a França. E o primeiro teste reactivo às suas demagógicas palavras será no dia em que a França tiver que ir aos mercados financiar-se.
Confio que tivemos um Hollande pré-eleições - aquele que teve a louca ideia de taxar os ricos a 75% - e o Hollande pós-eleições - o tecnocrata que, à semelhança de Monti, sabe que o crescimento económico e os planos de combate ao défice estão em encontrar o caminho para eliminar a estagnação. E essa só se consegue através da reformas estruturais que, na sua essência, irão aumentar as taxas de desemprego.
Hollande irá concluir muito brevemente que, por muito que erga a voz contra a hegemonia da Alemanha, é ela quem dita as regras actualmente. E, se numa primeira fase, o Governo alemão deixará que Hollande salve a sua face, depressa lhe dirão que o Pacto Orçamental Europeu é um pacta sum servanta, ou seja, é para ser cumprido seja qual for o Governo eleito. Aceitará as reformas que conduzam ao crescimento económico imediato, agora, negociação de pactos NEIN!
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