No passado sábado, realizou-se o 3º Encontro com a Educação, iniciativa organizada pelo Município da Mealhada. Este evento, numa autarquia que tem feito um investimento estrutural significativo na Educação nos últimos anos, faz todo o sentido, desde que se destine a discutir a Educação que temos e aquela que desejamos ter.
Lamentavelmente, e porque assisti aos trabalhos que decorreram na manhã, não fiquei com a ideia de que tenhamos sequer discutido a Educação na Mealhada. E, sinceramente, dispensava a parte inicial de “comício” feita pelos políticos presentes e que apenas serviram para a glorificação dum Governo que teve o condão de afrontar os professores, os alunos e demais intervenientes no processo educativo. Pena que, após a intervenção dos políticos – Presidente da Câmara, Governador Civil e Directora Regional da DREC - não tenha havido espaço para o debate, pois, acredito que os docentes presentes tivessem uma palavra a dizer para contrariar a visão tão optimista dos intervenientes do partido socialista.
Felizmente, tive o prazer de ouvir o Presidente da Comissão Administrativa Provisória do Agrupamento de Escolas da Mealhada, Fernando Trindade, caso contrário teria saído frustrado e com a ligeira sensação de que se estiveram a discutir lugares comuns, ignorando-se a discussão dos problemas que ainda assolam a educação no concelho da Mealhada.
E foi graças a Fernando Trindade que fiquei um pouco mais esclarecido sobre as questões que preocupam a comunidade escolar do nosso concelho. Se por um lado, o Municipio da Mealhada tem feito um esforço louvável de investimento no 2º e 3º ciclo, a verdade é que é no Secundário que os problemas surgem hoje com mais acutilância. Em toda a história do concelho da Mealhada nunca houve qualquer investimento por parte do Estado ou do Município no Ensino Secundário. De recordar que a Escola Secundária foi criada através da iniciativa privada e, posteriormente, foi integrada na rede pública de ensino. E, em toda a história da democracia portuguesa à qual se reconhece que, dado o atraso existente em matéria de educação em 1974, caminhou em passos largos para uma aproximação dos níveis educativos de outros países, o concelho da Mealhada não conheceu qualquer investimento significativo no Secundário.
Aliado a essa falta de investimento, ou provavelmente por causa dele, assiste-se a uma sangria de alunos que terminam o 3º ciclo para as escolas de Coimbra e para a Escola Profissional. E, se a transferência destes alunos para a Escola Profissional Vasconcelos Lebre deve ser vista com optimismo, desde que se tenha em conta as legítimas expectativas de empregabilidade no término destes cursos, assunto muito caro ao director do estabelecimento, o mesmo não acontece com a transferência para as escolas de Coimbra. E se o Presidente da CAP do Agrupamento de Escolas da Mealhada aflorou algumas das prováveis causas – entre elas algumas preocupantes, como a existência de centros comerciais – a verdade é que um assunto que podia ter sido a pedra de toque para o início do debate, foi posteriormente esquecido, tendo-se optado pela exposição de conceitos e “powerpoints” que, não obstante a importância teórica, pouca relevância terão para o contexto da comunidade escolar do concelho da Mealhada.
Provavelmente, essa terá sido a razão para quem ninguém da assistência – professores, autarcas e demais pessoas – tenha tido sequer a necessidade de colocar uma qualquer questão. Uma iniciativa a repensar, com certeza.
(artigo a publicar no "JORNAL DA MEALHADA", de 13/04/2011)
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