Portugal
vive hoje aquilo que resolvi chamar o síndrome “Manuel José”, em homenagem a
este tão particular, como caricato, treinador português.
De
tempos a tempos, este excelso treinador resolve vir dar umas entrevistas
carregadas de fel contra o futebol português e, em particular, contra a
selecção portuguesa e o seleccionador da altura. Manuel José, que é um rapaz pouco
cordato, lá vai desfiando as suas críticas às técnicas e tácticas, à preparação
do estágio, às reportagens feitas com os jogadores, enfim, a tudo o que mexe
dentro da selecção. Mas, no fundo, Manuel José cospe todo este rol de
argumentos críticos, não com o intuíto construtivo, mas pela razão mais típica
do português, invejoso e mesquinho, que gostava de estar no lugar que outros
ocupam.
E
esta é a doença nacional que nos afecta e nos impede de centrarmos as nossa
atenções e energias naquilo que verdadeiramente importa e devia ser desígnio
nacional – sobreviver a esta crise, aprender com ela e com os erros do passado
para nos tornarmos uma nação mais forte e competitiva. Ah, e, claro, apoiar a
Selecção Nacional.
Nos
últimos dias, então, o síndrome “Manuel José” tem contaminado não só os portugueses em
geral, mas os políticos em particular. E o expoente máximo desse síndrome até
está dentro do meu partido e chama-se Pacheco Pereira. O
político/comentador/historiador, e ressalvo aqui o profundo respeito
intelectual que nutro por ele, lembra-me um pouco o treinador Manuel José, com
a desvantagem de, ao contrário daquele, nunca ter somado qualquer “título” na
sua já longa carreira de “treinador”. Pacheco Pereira, à semelhança do que já
ouvi de alguns “treinadores de bancada” da oposição, pede um abrandamento das
medidas de combate à crise, pede flexibilidade e crítica o que chama “mentalidade
empresarial” do Governo. Ora, Pacheco Pereira pode até ser argumentativo e
sustentado, mas alheia-se da realidade do País, ao contrário daquilo que acusa
o Governo de fazer. Portugal não tem, certamente, duas coisas: nem tempo, nem
dinheiro. E quem não tem dinheiro, também não faz cantar um cego.
Mas
Portugal tem uma coisa que o comentador devia
enfatizar. Portugal tem quatro avaliações positivas e consecutivas da “Troika”,
que se traduzem numa reaquisição de confiança internacional e num aumento
muito, mas muito substancial das exportações. Há, no entanto, problemas graves.
E o desemprego, sobretudo o desemprego jovem, é o flagelo nacional e que urge
ser combatido no imediato.
E
se o síndrome “Manuel José” afectou uma certa classe política, então, afectou
os portugueses duma forma quase viral. E a inveja e a mesquinhez nota-se onde?
No carros! Nos carros potentes e brilhantes que os jogadores “ousam” exibir nos
estágios da selecção. Porque é um ultraje o Cristiano Ronaldo, deus ex machina de todos os portugueses,
aparecer num Lamborghini XPTO, quando
os portugueses apenas vivem remediados. E como a vingança se serve a quente,
rejubilaram e deram vivas quando ontem foi anunciado que os “homens do fraque”
dos serviços de Finanças passariam a andar de mão dada com a polícia para
inspeccionar os proprietários de todos os carros potentes e reluzentes que
circulam por essas estradas.
Tenham
paciência, mas para esse peditório eu não dou. Porque no fundo o que move os
políticos e os portugueses ressabiados é apenas o sentimento grotesco da inveja
e da mesquinhez. Porque, no fundo, o que os políticos desejavam era ser o “mister”,
o “seleccionador nacional” e, a larga
maioria dos portugueses desejava ser rico, famoso e ter um jeitinho para a bola
como o Cristiano Ronaldo.
Vá
lá! Foquemo-nos no que importa e apoiemos a Selecção Nacional, a verdadeira e a
em sentido figurado.