quarta-feira, 6 de junho de 2012

O SÍNDROME “MANUEL JOSÉ”


Portugal vive hoje aquilo que resolvi chamar o síndrome “Manuel José”, em homenagem a este tão particular, como caricato, treinador português.
De tempos a tempos, este excelso treinador resolve vir dar umas entrevistas carregadas de fel contra o futebol português e, em particular, contra a selecção portuguesa e o seleccionador da altura. Manuel José, que é um rapaz pouco cordato, lá vai desfiando as suas críticas às técnicas e tácticas, à preparação do estágio, às reportagens feitas com os jogadores, enfim, a tudo o que mexe dentro da selecção. Mas, no fundo, Manuel José cospe todo este rol de argumentos críticos, não com o intuíto construtivo, mas pela razão mais típica do português, invejoso e mesquinho, que gostava de estar no lugar que outros ocupam.
E esta é a doença nacional que nos afecta e nos impede de centrarmos as nossa atenções e energias naquilo que verdadeiramente importa e devia ser desígnio nacional – sobreviver a esta crise, aprender com ela e com os erros do passado para nos tornarmos uma nação mais forte e competitiva. Ah, e, claro, apoiar a Selecção Nacional.

Nos últimos dias, então, o síndrome “Manuel José”  tem contaminado não só os portugueses em geral, mas os políticos em particular. E o expoente máximo desse síndrome até está dentro do meu partido e chama-se Pacheco Pereira. O político/comentador/historiador, e ressalvo aqui o profundo respeito intelectual que nutro por ele, lembra-me um pouco o treinador Manuel José, com a desvantagem de, ao contrário daquele, nunca ter somado qualquer “título” na sua já longa carreira de “treinador”. Pacheco Pereira, à semelhança do que já ouvi de alguns “treinadores de bancada” da oposição, pede um abrandamento das medidas de combate à crise, pede flexibilidade e crítica o que chama “mentalidade empresarial” do Governo. Ora, Pacheco Pereira pode até ser argumentativo e sustentado, mas alheia-se da realidade do País, ao contrário daquilo que acusa o Governo de fazer. Portugal não tem, certamente, duas coisas: nem tempo, nem dinheiro. E quem não tem dinheiro, também não faz cantar um cego.

Mas Portugal tem uma coisa que o comentador devia  enfatizar. Portugal tem quatro avaliações positivas e consecutivas da “Troika”, que se traduzem numa reaquisição de confiança internacional e num aumento muito, mas muito substancial das exportações. Há, no entanto, problemas graves. E o desemprego, sobretudo o desemprego jovem, é o flagelo nacional e que urge ser combatido no imediato.

E se o síndrome “Manuel José” afectou uma certa classe política, então, afectou os portugueses duma forma quase viral. E a inveja e a mesquinhez nota-se onde? No carros! Nos carros potentes e brilhantes que os jogadores “ousam” exibir nos estágios da selecção. Porque é um ultraje o Cristiano Ronaldo, deus ex machina de todos os portugueses, aparecer num Lamborghini XPTO, quando os portugueses apenas vivem remediados. E como a vingança se serve a quente, rejubilaram e deram vivas quando ontem foi anunciado que os “homens do fraque” dos serviços de Finanças passariam a andar de mão dada com a polícia para inspeccionar os proprietários de todos os carros potentes e reluzentes que circulam por essas estradas.

Tenham paciência, mas para esse peditório eu não dou. Porque no fundo o que move os políticos e os portugueses ressabiados é apenas o sentimento grotesco da inveja e da mesquinhez. Porque, no fundo, o que os políticos desejavam era ser o “mister”, o “seleccionador nacional”  e, a larga maioria dos portugueses desejava ser rico, famoso e ter um jeitinho para a bola como o Cristiano Ronaldo.

Vá lá! Foquemo-nos no que importa e apoiemos a Selecção Nacional, a verdadeira e a em sentido figurado.