Na passada semana pudemos
assistir, na Covilhã, a um episódio que raiou a violência física contra o
Ministro da Economia Álvaro Santos Pereira.
Diriam os distraídos, e
também o Ministro, que a manifestação de desagrado havia sido algo espontâneo,
fruto destes tempos difíceis de austeridade, desemprego, aumento da precaridade
e da carência social. Alías, o próprio Ministro da Economia, na sua boa fé, até
foi mais longe, através da manifestação, duma caridade quase cristã, de
compreensão das manifestações e até dos insultos, afirmação na qual não me
revejo.
Mas, a frio, constatámos que
a liderança da manifestação violenta não partiu dos injustiçados desempregados
ou trabalhadores precários. A esses atribuo, pelas dificuldades sentidas, toda
a legitimidade para a indignação e manifestação contra a austeridade que nos
toca a todos, que não desejámos, que não apoiamos, mas para a qual não temos
alternativas. A violência contra o Ministro teve origem, sim, nos profissionais
da greve, nos especialistas da “luta contra o capitalismo”, nos paladinos dos
direitos dos trabalhadores. Ou seja, nos “assalariados da CGTP” que há muitos,
muitos anos desconhecem o valor do trabalho e das reais dificuldades de quem,
na verdade, produz. Já sei que estas palavras irão criar ira nalguns
“camaradas”, mas o choque que tive ao ver um dirigente sindical que desde 1979
nada mais faz do que manifestar-se e exigir a lua dos Governos, do patronato e
do “diabo a sete”, não pode colher o meu apoio. Lamento, mas não tem a minha
solidariedade na indignação daqueles que muito justamente lutam pelo seu posto
de trabalho e pelo seu salário, o que não foi o caso daquele dirigente sindical.
Mas vou ainda um pouco mais
longe. Olhemos para o que nos diz a História do pós-25 de Abril e coloquemos na
balança os contributos de vária ordem que a CGTP deu aos trabalhadores e ao
tecido produtivo português.
1 – A CGTP contribuiu, e
muito bem, para a criação do salário mínimo nacional.
2 – A CGTP, em conluio com o
Conselho da Revolução, contribuiu e instigou a nacionalização da banca, dos
seguros e a dita Reforma Agrária que, poucos anos depois, levou à ruína da
agricultura portuguesa.
3 – Por último, que eu saiba,
a CGTP não ajudou a criar um posto de trabalho desde a sua fundação.
Sendo assim, com que
legitimidade é que a CGTP instiga greves na CP e na TAP sabendo que estão a
depauperar ainda mais empresas com dificuldades? Porque razão não mostram mais
razoabilidade nas suas exigências ao Governo e às entidades patronais?
Por uma razão simples mas
atroz. A Intersindical aumenta a sua força na fraqueza, tem mais influência na
queda das empresas do que na sua solidez. E hoje temos a constatação quase científica
desta afirmação. É nestes momentos de crise, de austeridade e dificuldade que a
CGTP mostra a sua força, não pretendendo contribuir de forma racional,
preferindo ser um factor que leva à destruição total. Lamentável.
*artigo a publicar na edição desta semana do JORNAL DA MEALHADA, que regressa ao formato papel.