terça-feira, 3 de julho de 2012

CGTP – a manifestar-se desde 1970




Na passada semana pudemos assistir, na Covilhã, a um episódio que raiou a violência física contra o Ministro da Economia Álvaro Santos Pereira.
Diriam os distraídos, e também o Ministro, que a manifestação de desagrado havia sido algo espontâneo, fruto destes tempos difíceis de austeridade, desemprego, aumento da precaridade e da carência social. Alías, o próprio Ministro da Economia, na sua boa fé, até foi mais longe, através da manifestação, duma caridade quase cristã, de compreensão das manifestações e até dos insultos, afirmação na qual não me revejo.
Mas, a frio, constatámos que a liderança da manifestação violenta não partiu dos injustiçados desempregados ou trabalhadores precários. A esses atribuo, pelas dificuldades sentidas, toda a legitimidade para a indignação e manifestação contra a austeridade que nos toca a todos, que não desejámos, que não apoiamos, mas para a qual não temos alternativas. A violência contra o Ministro teve origem, sim, nos profissionais da greve, nos especialistas da “luta contra o capitalismo”, nos paladinos dos direitos dos trabalhadores. Ou seja, nos “assalariados da CGTP” que há muitos, muitos anos desconhecem o valor do trabalho e das reais dificuldades de quem, na verdade, produz. Já sei que estas palavras irão criar ira nalguns “camaradas”, mas o choque que tive ao ver um dirigente sindical que desde 1979 nada mais faz do que manifestar-se e exigir a lua dos Governos, do patronato e do “diabo a sete”, não pode colher o meu apoio. Lamento, mas não tem a minha solidariedade na indignação daqueles que muito justamente lutam pelo seu posto de trabalho e pelo seu salário, o que não foi o caso daquele dirigente sindical.
Mas vou ainda um pouco mais longe. Olhemos para o que nos diz a História do pós-25 de Abril e coloquemos na balança os contributos de vária ordem que a CGTP deu aos trabalhadores e ao tecido produtivo português.
1 – A CGTP contribuiu, e muito bem, para a criação do salário mínimo nacional.
2 – A CGTP, em conluio com o Conselho da Revolução, contribuiu e instigou a nacionalização da banca, dos seguros e a dita Reforma Agrária que, poucos anos depois, levou à ruína da agricultura portuguesa.
3 – Por último, que eu saiba, a CGTP não ajudou a criar um posto de trabalho desde a sua fundação.
Sendo assim, com que legitimidade é que a CGTP instiga greves na CP e na TAP sabendo que estão a depauperar ainda mais empresas com dificuldades? Porque razão não mostram mais razoabilidade nas suas exigências ao Governo e às entidades patronais?

Por uma razão simples mas atroz. A Intersindical aumenta a sua força na fraqueza, tem mais influência na queda das empresas do que na sua solidez. E hoje temos a constatação quase científica desta afirmação. É nestes momentos de crise, de austeridade e dificuldade que a CGTP mostra a sua força, não pretendendo contribuir de forma racional, preferindo ser um factor que leva à destruição total. Lamentável.

*artigo a publicar na edição desta semana do JORNAL DA MEALHADA, que regressa ao formato papel.